sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

Descoberta

Enquanto estive no Brasil, descobri uma coisa que me deixou ao mesmo tempo feliz e triste. Descobri que gosto mais da Inglaterra do que eu imaginava.

A maioria dos meus posts reclama da falta de pontualidade dos trens, dos ônibus, do preço das coisas, da falta da minha família, do Brasil, dos amigos... Acho que por minhas férias terem sido longas (quase 6 semanas no Brasil) tive todo esse tempo vago pra "sentir". Pasma eu fiquei quando me dei conta que sentia falta daqui! Como?!?! "Não tem nada naquela terra pra ti menina, acorda!" dizia minha razão. Mas meu coração falou mais alto: "Como não? Aquela terra te deu um marido, uma casa, um emprego, e pode se chocar, minha querida, te deu amigos!!!"

Fiquei com medo. Não vou poder ficar a vida inteira de um lado pro outro. Ou crio minhas raízes aqui, ou volto pro Brasil. As vezes fico com raiva de mim, de não ter uma carreira, de quase ser balzaquiana e ainda estar começando do zero, com uma mão na frente e a outra atrás. E ainda me perguntam o por que de eu ainda não estar grávida... Acha que eu posso ter essa responsabildade? Não. Definitivamente não. Se eu não sei nem onde quero morar definitivamente, como posso resolver ter filho?

A Inglaterra tem muita coisa boa pra oferecer. Tem muita oportunidade, tem segurança, tem frio (adoro frio, mas aqui falta neve)... Materialmente tem tudo que eu preciso. Espiritualmente ainda falta eu achar meu templo, muito embora minhas orações sejam feitas dentro do meu coração...

Eu sei que se ficar aqui vou ter oportunidades, coisas surgirão e tudo tem que melhorar.

Mas tem a coisa do avião, sabe? Quando eu entro no avião daqui pra ir pro Brasil, eu morro de alegria, nem penso em quem tá ficando pra trás. Na volta, pra mim e agora pro Vince também, voltar é quase que uma tortura, por causa do peso emocional que fica quando a gente diz "Tchau".

Um ano? Dois? Não sei quando a gente vai de novo. Queremos poder ter um dinheiro pra começar a comprar algo por lá... Mas o sacrifício vai ser não poder ir pra lá por um tempo. Quanto tempo eu não sei. Agora estou me sentindo um ser alienado, bem ao estilo expatriado, aquele que não tem um lugar no mundo, que vai ser morador em qualquer lugar.

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