sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Esquerda e Direita


Na política de qualquer país tem sempre a esquerda e a direita. A esquerda dos trabalhadores, a direita dos conservadores. Na maioria dos países essa divisão é muito clara e óbvia.

Quando eu vim pra Inglaterra, o país era governado pela esquerda, o Labour Party, com Tony Blair como Primeiro Ministro. Apesar de tomar algumas decisões que não me agradavam e por ser muito “soft”, eles não cheiravam nem fediam pra mim.

Por causa de algumas dessas decisões – a guerra no Iraque por examplo que foi , na minha opinião, catastrófica para esse governo – o governo foi perdendo credibilidade. Gordon Brown e a recessão foram a última gota. O público não viu com bons olhos como o governo lidou com a crise e, convenhamos, Gordon Brown tem o carisma de um rinoceronte com instinto assassino e sorriso malevolente.

Outro aspecto foi a revolta popular contra seus representantes. Os Membros do Parlamento (MPs) que tiveram suas despesas pessoais pagas por contribuintes, envolvidos em muitos casos de reembolsos de despesas totalmente desnecessárias e muitas vezes ilegais. Teve marido de ministra assistindo filme pornô na TV à cabo e pedindo reembolso, foi MP pedindo reembolso para o lago que ele construiu na sua luxuosa casa e muitos outros casos de completo desrespeito com o eleitor. Esses MPs na sua vasta maioria eram de esquerda.

O fato de Gordon Brown não ter dado o braço a torcer e se despedir do posto antes da eleição acabou com qualquer chance que o Labour tinha. Ninguém gosta de bullies. Eu particularmente não votei Labour porque nunca fui com a cara do Brown.

Os Britânicos também não estavam muito entusiasmados com o prospecto de um governo conservador. Aparentemente a era Thatcher não foi a mais feliz na vida das pessoas por aqui. Ninguém tem boas lembranças dessa época e todos tinham medo de todas as políticas conservadoras de volta ao poder.

Eu, em toda minha naïveté não via como um governo conservador poderia ser pior do que o que a gente tinha com os esquerdistas.

Vieram as eleições e ninguém ganhou a maioria no Parlamento, o que tornava tudo inviável porque sem a maioria na Casa dos Comuns (House of Commons), nenhuma lei passa, fica tudo no empate. Fez-se um governo de coalisão - o primeiro desde os anos 30. Os felizardos: Conservadores e Liberais Democratas. Ficou conhecido como Con-Dem. Con-Dem-nados sejam.

Começaram com o maior bafafá dizendo que estamos devendo tanto dinheiro que o governo anterior não fez nada para aliviar, etc. Dai pra começar os cortes orçamentários e de serviço público foi um passinho.

A política do medo não tem muito efeito depois que o susto passa. Todos estão horrorizados com as medidas implantadas, as milhares de pessoas que perderam ou vão perder o emprego e todos que são servidores públicos ou tem ligação com o governo estão, literalmente, com o cú na mão, ninguém sabe se vai ter emprego seguro ou não.

Eu estou horrorizada com a falta de visão desses homens e mulheres no governo. O modo como eles tentam justificar seus atos, a falta de sensibilidade, a falta de lógica e fatos concretos só me levam a crer que eles são completamente despreparados para governar.

Sempre achei que politica é sempre a mesma sujeira, onde quer que a gente viva – acho que estou 100% certa.

Sendo brasileira sou muito mais cínica sobre política do que meus conterrâneos Britânicos. Pelo menos aqui na Inglaterra nós não somos forçados a votar. Nós votamos por ser nosso dever cívico e por ser do nosso interesse. No Brasil, troca-se a obrigação de ter que votar por um prato de comida.

Mas, hoje a discussão é sobre a política no Reino Unido. E essa discussão vai muito mais a fundo e vai render muito mais do que aquela típica conversa britânica sobre a previsão de chuva no centro-oeste.

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